Carlos Henrique Iotti, 44 anos, natural de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, é um nome notório no mundo dos quadrinhos e do humor. Com colaborações em jornais como o Pioneiro e o Zero Hora, além de vários livros publicados, ele é o criador do icônico personagem Radicci, um ítalo-brasileiro de temperamento único e amante de um bom vinho. Nesta entrevista exclusiva, mergulhamos na mente criativa por trás desse personagem tão querido.
Como Tudo Começou
Sua jornada no mundo dos desenhos começou durante seus dias de faculdade na UFRGS. Foi lá que Carlos Henrique Iotti criou seu primeiro personagem, um guerrilheiro trapalhão chamado Ernesto Che da Silva. Uma sátira ao movimento estudantil da época, essa criação marcou o início de sua paixão pelo humor gráfico. Dessa faísca inicial, surgiram personagens como Frederico e Fellini, Deus e o Diabo, Adão Hussein, e, claro, o lendário Radicci.
A Inspiração por Trás de Radicci
Radicci, nascido em 1983, é a personificação do colono italiano que chegou ao Brasil em 1875 e suas gerações subsequentes. Representando hábitos, costumes e a peculiar linguagem desse grupo, Radicci cativa leitores ao falar do cotidiano de forma tão cativante e realista. Carlos Henrique Iotti revela que, embora a HQ tenha raízes regionais, ela encontra ressonância em lares de diversas formações, conectando-se com a experiência humana comum.
A Revolução Cubana, em 1959, marcou um momento crucial na América Latina, lançando-a no cenário global. Enquanto os EUA observavam a ascensão de um regime comunista em seu quintal, Cuba se tornou um peão nas complexas jogadas da Guerra Fria. Além das implicações geopolíticas, essa revolução também dirigiu os holofotes para a cultura latino-americana. Como sempre, entender os inimigos era crucial para derrotá-los. Esse período marcou o início do Boom da literatura latino-americana, com autores como Cortázar, Garcia Marquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes e Alejo Carpentier emergindo como estrelas literárias internacionais.
O mágico na Literatura
A presença do extraordinário e do fantástico sempre permeou a Literatura. Desde os mitos gregos de deuses interferindo na vida humana até a Bíblia com seus milagres, elementos sobrenaturais foram usados para expressar verdades mais profundas. Os autores buscavam inspiração na realidade, mas a verdade transcendia a aparência, algo semelhante a um platonismo literário.
O realismo na Literatura
Entre o final do século XV e o início do século XVII, grandes transformações ocorreram no conhecimento, cultura e política do Ocidente. A Renascença européia floresceu, enquanto o pensamento de René Descartes e as descobertas científicas de Copérnico, Galileu e Newton abalaram os saberes tradicionais. O realismo substituiu o mágico e o foco mudou para representar a realidade de maneira mais plausível e lógica.
Eu tento entender a humanidade; eu juro que tento. Porém, tem certas coisas que fogem da compreensão de qualquer ser humano. Para mim, o mundo perdeu a sua capacidade de surpreender.
A Dualidade Entre “Bobos” e “Inteligentes”
Na História, sempre houve o contraponto entre bobos e inteligentes. Os primeiros servindo de matéria para o estudo dos segundos, que por sua vez oferecem resultados e melhorias para o bem comum. Uma espécie de mutualismo. Ultimamente, no entanto, as coisas têm se confundido. Tem surgido toda sorte de pseudointelectuais e também cientistas aos quais adjetivar ‘estúpidos’ é de um eufemismo ímpar. Portanto, fica difícil definir os bobos e os inteligentes. Deve haver alguns poucos que se encaixam fielmente nessas categorias, mas hoje eu aposto numa maioria híbrida. E como se sabe, híbridos são animais estéreis.
Logo, inférteis são também suas produções, artísticas ou científicas. Não contribuem lá com muita coisa. No máximo garantem o troféu eu-fiz-algo-em-minha-vida ao seu mentor. Assim, tudo bem que não acrescentem nada, mas também ser uma experiência tão inútil que não vale toda a demanda de esforços, dinheiro e tudo o mais é o fim da picada. Os artistas ainda têm a licença de transcender, ousar e não ter lógica. Ciência é feita de método e aplicação prática; um pouco de seriedade cai bem. No entanto, esses preceitos básicos para se fazer ciência parecem ter sido esquecidos pelos novos Einsteins.
O Inusitado Prêmio Ig Nobel
Todo ano, inúmeras experiências e pesquisas, no mínimo, inúteis são realizadas. Alguns, além de sem serventia, são engraçados, chegam a ser patéticos e beiram o bizarro. E para completar, já que a espécie humana é por demais oportunista, até existe prêmio para contemplar esses gênios e seus experimentos interessantes. É o tal do Ig Nobel Prize, ou Prêmio Ig Nobel.
Desde 1991, são distribuídos prêmios em diversas categorias para as ‘pesquisas que fazem as pessoas rirem e depois pensarem’, como sugere o lema do grupo que organiza as cerimônias. Cerimônias essas que, pasmem, são realizadas com a colaboração da Universidade de Harvard.
A Origem do POETRIX e sua Singularidade
Os tercetos do Poetrix nos remetem, imediatamente, ao Haikai. Mas quando e como surgiu a decisão de romper com a métrica e temática desse gênero e inaugurar o Poetrix?
No momento em que percebi que os tercetos que eu, e outros poetas, escrevíamos não eram haikais. Foi quando estava prestes a lançar “TRIX POEMETOS TROPI-KAIS” (1999) e conversei virtualmente com Aníbal Beça, poeta de Manaus. Ele me mostrou que o haikai tem outra proposta e nível de exigência que eu não compreendia. Há diversos entendimentos sobre o haikai. Alinho-me aos ortodoxos, que consideram que o haikai em nosso idioma deve ter 17 sílabas, distribuídas em três estrofes de 5, 7 e 5 sílabas, respetivamente, sem título, além do “kigo”, imagem ou emoção relacionada às estações do ano. Sem esses elementos, não é um haikai. O poetrix é mais “flexível”, com até 30 sílabas divididas nas três estrofes, título sem limitação de sílabas e temática livre. Está mais próximo do Sijô coreano que do haikai japonês. Os três coexistem com propósitos, leitores e praticantes distintos.
A Internet e a Brevidade Literária
A Internet é a Meca da brevidade. Rápida, dinâmica, objetiva e fugaz – traços que o Poetrix compartilha. Chamado de “Poeminha da Internet”, esse apelido provou que o Poetrix é a linguagem adequada para essa mídia. A Internet reflete o mundo: maravilhoso e banal. Surge uma legião de novos escritores, sendo que os bons persistirão. Distinguir brevidade de banalidade é crucial.
O Desafio e o Valor do Poetrix
A efemeridade na literatura não se aplica com milhares de livros publicados anualmente. Escritores renomados e novos autores continuam brilhando. As vendas online crescem, editoras prosperam. A Internet revela qualidade e mediocridade. Cabe ao leitor discernir.